Verifiquei que nos últimos tempos temos sido
bastante repetitivos na forma como construímos a nossa controvérsia história.
Aparentemente as nossas relações de dois cumes apresentam sempre algumas
semelhanças com os mitos longínquos que a nossa história escreveu um dia.
Talvez nos falte inspiração para algo mais ou as circunstâncias e erros
culturais continuem a ser os mesmos, apesar de toda a evolução de valores e
recursos que a sociedade portuguesa tem tido. Não vejo criatividade para a
criação de novos mártires salvadores.
Lembro-me do primeiro como se fosse hoje, o
Sebastião. Prometedor porém inconsequente amigo da esperança e para piorar um
pouco mais as coisas, ainda sofria da síndrome "vou mudar o mundo".
Por outras palavras, ingénuo de ambição desmedida. Hoje ainda é vivo. O
subconsciente histórico desenvolveu-se de tal maneira na população portuguesa
que se tornou fácil ver um Sebastião a qualquer esquina onde o manto de nevoeiro
se mantenha. O depósito de esperanças para um português é um murro no
discernimento. É preciso existir esperança... Nem que seja num D. Sebastião que
aparecerá passado milhares de anos e nós tirará a todos da vida menos boa que
obrigatoriamente temos que levar.
Pode mudar de nome, ter um aspeto diferente,
falar bem e até convencer-nos que a ilusão que nos é dita é simples realidade
que apenas os iluminados conseguem ver, no entanto existe algo que não poderá
mudar.
O facto de não ser o primeiro a aproveitar esta
fragilidade cultural.
Quem aproveitou não teve assim tão grande futuro.
Foi apanhado e é ouvido o seu nome apesar de a distância que os separa da
origem, com saudade porque em dia de nevoeiro lá voltarão.
O Sr. Azevedo tem tantos processos em tribunais
portugueses que seria possível escrever três epopeias, e com o que sobraria
podia-se preencher todo o apetite do Fernando Mendes.
O Sr. Sócrates foi procurar a França aquilo que
não encontrou em Portugal, uma cambada de motivos para estudar filosofia.
Digo-vos com toda a certeza, procurou mal.
A esperança havia, só que o poder corrompeu o
homem.
E com o homem corrompido a capacidade
esvanece-se.
Cumprimentos aos interessados.
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