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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Carta

Querido,

O dia e a noite passam. Tento encontrar-me em mim. Percorri milhas interiores, naveguei oceanos de consciência, escavei buracos de solidão tudo enquanto me banhava de lágrimas de desprezo pelo que sou. Não me senti, não me olhei, tinha tanta dependência de mim que acabei por não me querer a mim próprio. Também o é o era mas não só, não chega.
À minha volta tudo estava e tu? Intermitente. Não consegui perceber se era aquilo que imaginava ser ou se alguma vez seria aquilo que queria ser. Confuso, tornei-me inútil. Empecilho de mim mesmo.

Vivia a noite imposta por mim e pelo tempo. Deste modo saí à minha procura. Encontrei-me? Não. Sozinho, eu? Não acreditei, que falta de hábito. Parecia que me tinha eclipsado de mim. Senti o frio da escuridão, o gélido pensamento nulo porém procurei sempre o quente da luz e o tórrido pensamento, fi-lo várias vezes. Nadas, encontrei muitos. Não existia hipérbole descritiva para tamanha desilusão. Era como um cão vadio sem tigela que andava a farejar rastos de mim mesmo. O meu eu, o dono, tinha largado a coleira apesar de ter ouvido o seu estridente barulho de queda.

Por mais que me encontrasse, não atingia aquilo que pretendia mas reconheci o problema.

Quem estava intermitente era eu, bastava encontrar-me para te encontrar.

Calma, a luz apenas se fundiu e a trela estava presa no poste.

Voltei, boa noite.