Interessados

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Subnutrido parisiense

Boa noite,

Tenho andado ocupado, sim. Só que tal invalidez de tempo não me retira os olhos e ouvidos face ao que se anda a passar no tempo que agora se passa. Ás vezes sinto falta de uma onda de solidariedade por quem mais necessita e para meu espanto aconteceu quando eu menos estava à espera, ou não.

Para tentar perceber melhor como devia interpretar tal ato de luminosidade por parte da inteligência crónica que comandava tal onda, tive que me meter no lugar dos piores portugueses de sempre.

Sim esses, os emigrantes. 

De longe via um país cheio de ambição de emigrante, onde o novo e velho português colocaria tijolo, onde o novo e velho português servia o burguês e onde o novo e velho português habituado a pouco trato sobreviria com meio pão com bolor e tigela de água para se beber e lavar. Este novo e velho português não ambicionava teto mas sim uma telha para começar a construir, este novo e velho português não queria carne mas sim madeira para construir e por fim este novo e velho  português apenas queria uma coisa, o seu velho país para o conseguir construir.

Com um jeito insultuoso facilmente chego à pequena metáfora menos insultuosa que consegui criar, vi debaixo de holofotes miseráveis, entre a intermitência da luz em constante falha,  por baixo de uma manta escarafunchada de desespero e com restos de alguém que por aquele lugar não quis deixar nada.
Um subnutrido parisiense, que via-se bem que tinha passado tudo aquilo que um dia ambicionara mas ao contrário. Identifiquei-o logo pela magreza, nem conseguia fixar o olhar tal era a falta de forças e muito menos se virava para trás porque a coragem tinha fugido da mesma forma que ele fugiu do passado.

Não era sequer português, nem emigrante porque chamar-lhe isso seria insultuoso para quem um dia lutou como nunca para ter algo melhor e trazer algo ainda melhor.

Por isso fico-me agora com uma expressão elogiosa dado que esta pessoa nem sequer deveria ter direito a quaisquer comentários.

Na tua única terra diz-se:

Au revoir, subnutrido parisiense. 


Onze

É uma unidade económico-social, integrada por elementos humanos, materiais e técnicos, que tem o objectivo de obter utilidades através da sua participação no mercado de bens e serviços.

Pensando num destes dias abaixo de uma aura de quaresma andava eu a refletir por trilhos nunca antes percorridos com respiração ofegante, pois lá ia subindo a montanha e sentia o vento empurrando com elogiosas brisas de atrapalho. Lembrava-me a cada passo estridente que rasava em pequena rocha no chão daquele sorriso, daquele choro, daquela irritação, daquela pressão, daquelas pessoas sem nunca antes esquecer aqueles momentos e aqueles afrontamentos que não paravam de surgir.

Via saudade, via esperança, via acreditar e vinha sempre aquele pesar por notar da ausência de quem cá devia estar. Não sabia se era do passado que sentia falta ou o novo presente que me estava a fazer pensar, por fim no meio de tanto baralho talvez até fosse mais medo de não ter futuro, dada a não vontade de acabar. Mãos exploravam o vermelho e sentiam fricção numa corda diferente daquilo que já foi, porém dava para agarrar, tudo era diferente mas a corda permanecia.

Lá  a meio do alto, olhava para baixo, não sentia que tivesse ficado ninguém desaproveitado e nada me fazia mal olhado. Simplesmente o tempo tinha passado e com ele as pessoas mudaram, no entanto, a corda que nos unia estava sempre à mão de agarrar.

Ao alto, não cheguei, so que existe algo que nunca me esquecerei.

Nestes primeiros primeiros ponteiros de vida onde o círculo se percorre a correr, tive a sorte de apanhar sempre gente competente no modo de viver.

Passado, presente ou futuro a instituição está bem entregue e cuidada.

Oxalá continuemos assim, longe de uma definição onde a palavra vida não cabe. 

Para a família:

Avós F. e a toda a sua instituição, obrigado e felicidades.